domingo, 18 de janeiro de 2009

Terras do Demo


"A serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida. Comprazes-te em pintar-lhe as virtudes e encantos sem sombras, e não serei eu que te acoime de parcial. As tintas escuras são para o novelista e tens razão. Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto especial que não tenha algures. Nada disso. A serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência. Só por isto".
(Prefácio de Aquilino Ribeiro ao livro do Pe. Manuel da Gama "Terras do Alto Paiva", 1940)



Mais uma vez fui de fim de semana até às Terra do Demo, e compreendo bem, porque Aquilino Ribeiro lhes chama por um termo depreciativo, Demo. Embora muito bonitas e nesta época do ano com alguma neve, é um sitio que está cada vez mais velho, de onde os jovens tentam sair a todo o custo, para tentarem descobrir um novo mundo, que neste sitio não existe.

Serra muito bonita, mas fria, até o respirar custa por ser tão seco. As gentes desta terra encontram-se no meio da Vila, onde conversam ou jogam à malha. Os jovens não se vêm a não ser em cafés. Cafés estes que fecham cedo e não têm nada para chamar clientes, a não ser os produtos que ali se vendem. As discotecas são poucas e as que existem estão vazias, e também não têm nada para chamar a atenção. Já o queijo da Serra, esse sim, toca no coração. Amanteigado ou rijo é uma maravilha para a alma. E a calma que se faz sentir? É divinal, um descanso maravilhoso, mas ao mesmo tempo Diabólico. Aquelas pedras, serras e vales, onde tudo parece quieto... Compreendo bem porque Aquilino Ribeiro lhes chama por um termo depreciativo...

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